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Com mais de 45 mil anos, nova espécie de peixe-boi-amazônico é registrada em Rondônia

"O Trichechus hesperamazonicus é consideravelmente maior do que o peixe-boi-marinho e outro peixe-boi já visto na Amazônia. O tamanho do crânio se aproxima das medições do peixe-boi-africano", diz a pesquisa, em tradução livre.

O peixe-boi-africano, citado como parâmetro de medição, chega a 450 kg em idade adulta e pode medir até 3,5 metros.

Uma das hipóteses levantadas na pesquisa é que o mar é a origem do peixe-boi amazônico. "Há aproximadamente 5 milhões de anos, o Oceano Pacífico entrava na Amazônia. Com o soerguimento das Cordilheiras dos Andes muitos animais ficaram presos aqui, como por exemplo, esses Trichechus", explica Ednair Nascimento.

"Ainda está para ser determinado se o Trichechus evoluiu inicialmente em habitats ribeirinhos e depois invadiu ambientes marinhos. Ou se o peixe-boi de água doce é resultado de uma invasão de habitats costeiros", consta no artigo (tradução livre).

O fóssil de um mamífero marinho com mais de 45 mil anos, encontrado em áreas de garimpo de Rondônia, foi reconhecido como uma nova espécie de peixe-boi: o Trichechus hesperamazonicus.

Existiam, até então, três espécies de peixe-boi: Trichechus senegalensis (peixe-boi-africano), o Trichechus manatus (peixe-boi-marinho), e o Trichechus inunguis (peixe-boi-da-amazônia).

O trabalho, publicado na revista acadêmica Journal of Vertebrate Paleontology na última sexta-feira (17), descreve que a nova espécie de peixe-boi existia na bacia amazônica, mais precisamente no Rio Madeira, em Rondônia. A região atualmente não comporta mais peixes-bois, por ser um ambiente de corredeiras e águas rápidas, que não é propício para a espécie.

A publicação apresenta mais uma peça do quebra-cabeça que pesquisadores locais tentam montar para conhecer o cenário amazônico de milhares de anos atrás.

Os vestígios do peixe-boi foram encontrados na década de 1990 por garimpeiros que trabalhavam no distrito de Araras, nas proximidades de Nova Mamoré (RO).

Os garimpeiros entregaram os fósseis à pesquisadores do Museu da Memória Rondoniense (Mero) e Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

"O da Unisinos era de um garimpeiro que trabalhou por muito tempo em Rondônia, ele voltou pro Rio Grande do Sul e levou o material com ele. Depois que ele morreu, a família doou a peça à universidade", comenta Ednair Nascimento, diretora do Mero.

Mario Alberto Cozzuol e Fernando Perini (veja no vídeo acima), pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também se interessaram pela descoberta. O primeiro é especialista em mamíferos fósseis aquáticos e o outro atua na área de descrição de mamíferos. Ednair se juntou a eles e começaram a pesquisa, que conta com análise estatística, descrição anatômica e informações geológicas.

Durante os estudos, a equipe descobriu que os fósseis se tratavam de nova espécie – já extinta – de peixe-boi. O animal vivia no bioma amazônico brasileiro no período pleistoceno tardio.

O Trichechus hesperamazonicus é diferente de todas as outras espécies de peixes-bois por causa da arcada dentária.

"Ele tem os dentes grandes, proporcionalmente maiores que do peixe-boi-amazônico, semelhantes ao do peixe-boi-africano e marinho. E ao mesmo tempo o perfil da parte inferior da mandíbula lembra a do peixei-boi-amazônico. Mas ele também tem diferenças na parte posterior da mandíbula que não se encontra em nenhum outro peixe-boi fóssil existente", revelam os pesquisadores em vídeo.


Fonte: https://www.g1.globo.com